Não é só o fato das bebidas premium serem de melhor qualidade e apresentarem ingredientes de primeira que faz com que seu preço final seja quatro ou cinco vezes mais caro. O alto preço da bebida está diretamente ligada aos impostos.
A baixa produção de uma cervejaria artesanal, em comparação com a escala industrial das grandes cervejarias, é um reflexo da própria produção diferenciada da cerveja artesanal. O processo de produção da cerveja artesanal além de envolver mais pessoas, utiliza insumos específicos e importados, responsáveis por garantir maior qualidade em comparação com as cervejas de boteco.
As cervejas comuns, tem em sua composição, milho, arroz e muito pouco lúpulo, já que a conservação da bebida é feita por aditivos químicos. Assim, para se ter uma ideia, o custo de um cervejaria industrial gira em torno de R$ 0,40 por litro, enquanto uma cerveja artesanal custa R$ 5,00 por litro.
Embora uma cervejaria industrial e uma artesanal paguem os mesmos impostos, o diferencial está na capacidade que uma grande companhia possui em baratear seu processo produtivo e influenciar o governo para obter incentivos fiscais, sem mencionar a maior capacidade de produção. Aqui, reside a grande injustiça do setor, pois o governo tributa do mesmo modo as micro cervejarias e as AMBEV´s da vida.
Vamos mostrar um panorama, apenas para dar um ideia a vocês, de como os impostos afetam o preço final das cervejas. Em nosso país, incidem sobre a cerveja, basicamente, quatro tributos. Os federais (PIS, COFINS e IPI) e os estaduais (ICMS e ICMS/ST).
PIS/COFINS – Impostos para financiamento social
IPI – Imposto Sobre Produtos Industrializados
ICMS – Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (Varia para cada estado)
ICMS/ST – Mesmo imposto acima, mas na modalidade substituição (ST)
Sobre o prisma das cervejas artesanais, em média, quando você compra uma cerveja direto da cervejaria, você paga de 45 a 48% só de impostos.
Quando você adquire a cerveja artesanal de fornecedores ou revendas (Supermercados, por exemplo), o imposto pode variar de 40 a 43%, mas devemos somar a isso o lucro da distribuidora que geralmente varia entre 30 a 35%.
Agora, imagine um dono de bar, que além de adquirir a cerveja já com uma porrada de impostos, ainda tem que arcar com todos os custos do empreendimento, como despesas com pessoal, água, luz, segurança, etc. é óbvio que todos esses gastos ele repassa no valor da bebida, o que não está errado, e outra, ele seria maluco se não fizesse isso.
Assim, no final das contas a bebida que custou R$ 5,00 por litro, chega até você na mesa do bar por R$ 20,00 somando-se todos os impostos, fretes, custos e lucros.
Bruno Vallone – um quase advogado, rabugento e bebedor de uma boa cerveja!
Os argumentos são ótimos, mas, mesmo assim, sou a favor da alta tributação sobre a fabricação da cerveja. Primeiro: a cerveja não é um item da cesta básica, ninguém morre por falta de cerveja e, sim, por causa dela. Segundo: Há um gasto enorme de água para sua produção. Terceiro: Comparando o processo produtivo da cerveja com o processo produtivo da gasolina, vemos que a produção da cerveja é muito simples. Logo, concluo que ela, apesar de muito cara, é apreciada sem reclamação. Enquanto a gasolina é alvo de reclamação constante. Só para vocês terem uma ideia: A entrada de uma sonda para perfurar um poço de petróleo em terra, custa em torno de um milhão de reais. Também bebo cerveja, mas pagar caro ou não é uma opção minha. Agora, concordo com vocês em uma coisa: A tributação das pequenas cervejarias deveria ser menor. Principalmente para poder fomentar o a economia com a geração de emprego e renda.
So para atualizar a desgraça!
Hoje foi publicado no Diário Oficial o Decreto 8442/2015 que regulamenta a lei 11.037/2015 sobre a nova tributação de bebidas. O texto na íntegra pode ser solicitado através do e-mail abracerva@gmail.com
Dei uma lida no projeto e me pareceu um pouco cruel.
Explico.
Essa alteração nos impostos não afeta muito as grandes cervejarias como AMBEV e etc…, pois a produção é tão alta e a venda tão expressiva, que o repasse do imposto é baixo, muitas vezes nem sentido pelos consumidores.
Contudo, o micro cervejeiro é o mais afetado e ele é quem tem o preço do seu produto aumentado expressivamente. Vale lembrar que esse decreto é fruto de um projeto do próprio lobby da industria cervejeira no congresso.
Abraço
Oi pessoal, segue minha contribuição pro debate.
Além de tudo o que já foi citado por vocês, há um outro aspecto que, a meu ver, é muito pouco discutido e, infelizmente, não vejo perspectivas de melhora a curto/médio prazo. Trata-se da interface consumo de álcool X política de saúde pública.
Primeiro, tome como exemplo o caso do cigarro. Desde meados da década de 90 diversas medidas foram tomadas visando a diminuição populacional do consumo do tabaco, a fim de diminuir casos e mortes por câncer de pulmão, enfisema e outras doenças relacionadas ao hábito. Uma das medidas para essa diminuição do consumo foi justamente elevar muito os impostos incidentes no produto, com o objetivo de torná-lo mais caro e, consequentemente, ajudar a diminuir o consumo (junto com todas as outras medidas, p.ex, proibição de fumar em locai públicos fechados, proibição das propagandas, etc…).
Feito esse preâmbulo, vamos ao que interessa. Há setores vinculados à saúde coletiva e saúde pública que entendem que impostos altos incidindo sobre as bebidas alcoolicas é uma medida importante para diminuir o consumo abusivo de álcool (ou pelo menos mantê-lo em patamares estáveis). Todavia, esse pensamento acaba por ignorar um importante viés: apesar dos altos impostos, as gigantes do mercado conseguem jorrar no mercado quantidades enormes de cerveja a preços módicos que estão bem longe de serem impeditivo para que o consumidor abuse, haja vista a escala em que produzem (como apontado no texto). E infelizmente, as cervejarias que se propõem a trabalharem com produtos artesanais ou premium acabam arrastadas na onda.
O que (ainda) não se discute amplamente é que as cervejarias artesanais ou microcervejarias e etc trabalham com produtos obviamente diferenciados, que por definição não se prestam a serem consumidos rotineiramente em quantidades dionísicas e, portanto, cai por terra o argumento de manter o preço alto para desestimular o abuso.
Enfim, enquanto os legisladores não forem convencidos de que, na prática, as gigantes e as micros/artesanais/premium produzem produtos que têm características de consumo diferentes, muito pouca coisa vai mudar.
Abs
Amigo, bela contribuição para o debate, obrigado cara!!
Então, os legisladores fazem parte do lobby da industria de bebidas no congresso, é quase impossível haver essa diferenciação entra as gigantes e os micros produtores. As gigantes querem conter o avanço, e quando não conseguem, elas acabam comprando a cervejaria, oferecendo valores obscenos para os donos.
Fala Bruno!
Acho que você tocou numa ferida que deixa muita gente nervosa e estou incluso nessa.
Eu sempre me pego pensando nesse assunto e acho curioso encontrarmos cervejas que vem lá da Europa pelo mesmo preço, ou mesmo mais baratas, que as produzidas ali nos estados vizinhos.
Será que o custo do malte e lúpulo importados acaba sendo tão alto assim? Será que importar é mais barato que produzir? Os monges “trapezistas” e a Duvel Moortgat tem um custo de produção tão baixo assim? Ou estamos dando a desculpa dos altos impostos pra ter mais lucro na cadeia de transporte/venda, igual já falaram aqui?
É o mesmo papo com os carros. Temos altos impostos, mas também temos altas margens de lucro.
Só pra dar mais uns exemplos da ganância: geralmente encontro Guinness no supermercado por volta de 10 reais (de 9 a 11). Nas lojas online chega a 17!
E uma Baden Baden Weiss custando 18 enquanto uma Paulaner, 12. Explica essa, Guzzon! hahaha
Abraço
Daniel, explicar… explicar mesmo eu não consigo… rsrsrs
Mas uma Baden entre 18 e 20 e poucos reais é o preço que deveria ser vendida gelada para consumo no ponto de venda. No mercado ela tem que estar mais barata que isso…
E as lojas on line são um mistério para mim… algumas apresentam preços competitivos com mercados e outras vendem mais caro que qualquer bar…
Para vc ter uma ideia, a Baden Weiss no site do Pão de Açúcar Delivery esta por R$ 14,90, que é o preço esperado para um super mercado… que é praticamente o mesmo preço de uma Paulaner no mesmo site.
Hoje o imposto atrapalha bastante a micro cervejaria…. mas isso é potencializado pelo lucro absurdo que muitas lojas colocam nos produtos…
Abç
Guzzon
Grande Saul, digo Bruno!
Esse assunto fez parte do tema do meu TCC, sei bem como é esse incidência e costumo explicar um pouco para a galera.
Um dos grandes vilões é a cascata de impostos incidentes, já lá no começo da cadeia. O governo ainda por cima da uma avacalhada em tudo e a cobrança de impostos é diferente entre os pequenos produtores, sem regra determinada, é mais uma questão de sorte se vc paga mais ou menos… totalmente independente do tamanho da empresa.
Concordo com o Flávio, não são só os impostos. A margem também é maior nas especiais. Leva-se em conta a expectativa de valor agregado já embutida na cabeça do consumidor. E nele o mercado estabeleceu o seu valor, as pessoas já estão dispostas a pagar mais caro por cervejas especiais e não se volta atrás em preços que já estão sendo pagos. Assim, imaginar que se os impostos baixassem o preço cairia proporcionalmente é ingenuidade. A única coisa que leva a isso é oferta e demanda.
Concordo que falta incentivo para as micro cervejarias, que o transporte do produto no Brasil é complicado, que os impostos no país são altos, que a melhor qualidade dos ingredientes e o menor volume produzido afeta o valor da cerveja, etc… mas esses dias vi um gráfico (não consegui achar) que mostra a ganância é um dos maiores influenciadores no valor final da cerveja. Não da cervejaria em si, mas dos atravessadores principalmente.
Esses dias mesmo, comprei o kit de cervejas da Eisenbahn com as ganhadores do concurso Mestre-Cervejeiro. No supermercado, que claro ganha um bom desconto pelo volume comprado, paguei R$70,00. Em um site, o mesmo produto estava custando R$110,00 SEM FRETE INCLUSO. Será que o supermercado tem tantos incentivos assim para o site vender a mais de 57% do preço? Acho que não.
Flávio, essa eu posso responder….. esse site que esta vendendo a R$ 110,00 esta trabalhando muito acima do preço de mercado deste KIT, o valor que você pagou é o mais correto, cerca de R$ 17,50 por garrafa.
De fato, tem gente no meio do processo que não se contenta com o valor “desenhado” para o produto e resolve criar sua própria meta… outro dia bebi uma cerveja e esqueci de perguntar o preço…. paguei R$ 32,00 reais em uma cerveja que em qualquer outro lugar esta próxima a R$ 20,00…
Abç
Guzzon
De fato os preços nos bares variam absurdamente. Aqui no Rio, pelo que costumo ouvir de vocês dos preços praticados aí em São Paulo, a coisa está ainda mais feia. A sensação que eu tenho é que já existe um público considerável que está sedento por uma cerveja de qualidade, e graças a baixa oferta, acabam dispostos a pagar, em alguns casos, o dobro do valor encontrado em um supermercado. Minha percepção é que, ainda que a oferta esteja crescendo muito nos últimos anos, o crescimento da demanda superou muito, o resultado infelizmente é esse, preços abusivos. O pior é quando o FDP ainda tem a cara de pau de ameaçar a servir a cerveja no copo descartável… aconteceu domingo comigo em um quiosque da Mr. Beer… quase voei no pescoço do desgraçado… consumidor no Brasil só se fode…
Grande Bruno!
De fato os impostos no Brasil são altos e especificamente no caso da cerveja, colocar o micro produtos e a mega empresa no mesmo balaio gera um cenário muito pouco competitivo para as micro cervejarias. E infelizmente, o governo não tem o interesse de facilitar para as micro, afinal, imposto diferenciado é redução de arrecadação..
Abç
Guzzon