A Páscoa é uma comemoração, como citado no post anterior, onde basicamente o verdadeiro significado foi perdido e o que realmente importa são os ovos de chocolate. Hoje a coluna de nerdices cervejeiras vai demonstrar que chocolate e cerveja, além de uma harmonização muito boa, possuem um relacionamento histórico muito antigo.
Acredito que ninguém mais se espante com os intervalos de um post para o outro, certo? Não há necessidade para desculpas e motivos para a falta do post da semana passada, até porque o foco de todos era o de conseguir o ovo de páscoa desejado! Essa semana vou falar da história do chocolate com a cerveja, porque harmonizar ambos já sabemos que é uma delícia.
A páscoa é uma comemoração religiosa cristã e uma festividade judaica, que de forma simplificada em ambas as tradições, representa uma conquista e/ou passagem. O termo páscoa, utilizado quase que de forma unanime, faz referência a festa judaica e foi livremente adaptado ao cristianismo. No inglês a palavra utilizada é Eastern que derivou do alemão Ostern e sua origem etimológica faz referência a uma deusa anglo-saxônica do amanhecer. A tradição dos ovos de chocolate, apesar da origem francesa, é muito mais popular na América do Sul do que em qualquer outro continente, onde ovos de galinhas são utilizados e pintados para a o dia de páscoa, provavelmente por esta região possuir uma história muito mais longa com o cacau.
O chocolate é obtido através da fermentação das sementes do fruto do Cacau, uma planta obtida em regiões perto da linha do Equador. Seu cultivo possui registros datados de 1100 a 1400 a.C. por povos indígenas pré colombianos e a sua popularização ocorreu pelos Europeus, que levaram o cacau das Américas para o seu continente. Sabemos que os Astecas e o Maias dominavam o plantio do cacau e o utilizavam de diversas formas, como alimento e até como moeda, veneravam a planta e atribuíam a sua existência como sendo um presente divino.
Vestígios arqueológicos atuais apontam que a origem do chocolate, fruto da fermentação das sementes do cacau, seja mais antiga do que se imaginava. Assim como na cerveja a fermentação de grãos é tida como sendo muito anterior aos seus primeiros registros, pois o homem desenvolveu esta técnica por milênios e não a descobriu por acaso.
É certo afirmar que o chocolate começou a fazer parte da cerveja depois do advento da Porter quando o malte torrado, junto com outros ingredientes, poderiam conferir aromas e sabores que remetessem ao chocolate. Desta forma adicionar o chocolate puro à receita de uma cerveja, para tornar-la mais agradável por exemplo, foi uma questão de tempo.
Contudo é preciso saber que o chocolate da forma como qual conhecemos atualmente é uma criação muito mais recente, do início do século 19. Os Europeus chegaram a América e experimentaram uma bebida amarga e intragável ao gosto pessoal deles que porém os nativos tomavam de forma habitual. A cobiça pelo cacau aconteceu ao se perceber a importância que o povo local dava a planta e a bebida, que recebeu posteriormente o nome de chocolate.
Na história da cerveja devemos ficar atentos ao fato que ela não só surgiu na Suméria mas diversos povos ao redor do planeta, sem nenhum contato entre si, desenvolveram técnicas de fermentação de cereais para obtenção de sua “cerveja”. O que torna a Suméria mais ligada a história é o fato da utilização do malte de cevada porém cada cultura utilizou-se do cereal ali abundante para chegar a um resultado semelhante como por exemplo o arroz no Japão, Centeio na China, Sorgo pelo povos Africanos e Milho nas Américas.
Fazendo um paralelo com este raciocínio e com as evidência encontradas é possível afirmar que a semente do cacau, antes de ser chocolate, fora utilizado para produção de uma bebida alcoólica por povos que tinham acesso a mesma, ao fermentar não só as sementes mas também o seu fruto rico em açúcares. Estudos arqueológicos demonstram a produção de uma bebida diferente do chocolate, onde o fruto também era utilizado, e obtendo se uma bebida alcoólica.
O chocolate que os Europeus trouxeram da América era uma variação feita pelos Astecas e Maias da bebida original, somente se utilizando a semente. Aqui, novamente fazendo um paralelo com a cerveja, observamos a evolução da bebida pelo fato do sabor ser ruim mas suas propriedades inebriantes e nutritivas serem boas. Desta forma novas culturas começaram a adicionar ervas, cascas, flores, etc para melhorar este aspecto, deixando ambas as bebidas mais doces.
A cerveja e o chocolate são desenvolvidos e transformados a séculos até chegarem aos resultados atuais. Ambos possuem uma base semelhante, sendo intimamente ligados na história. O processo básico para obtenção das duas bebidas é o mesmo, considerando a “cerveja primitiva”, e o resultado após o seu consumo também é semelhante ao corpo humano.
Por tanto a cerveja de chocolate existe a mais de 3000 anos e apareceu antes mesmo do chocolate primitivo, provando mais uma vez que cerveja (ou o álcool) é a melhor descoberta do humano!
Ótima coluna, muita informação de um jeito descontraído!
E sobre a cerveja feita da fermentação dos grãos de cacau, está ai uma boa ideia
para lançar no social beers!
Obrigado Philip!
Essa cerveja ta animando a galera, será que sai algo?
Abraços
Luquita, muito legal a coluna. Mesmo sabendo da origem do chocolate por cima, nunca tinha me dado conta de que ele ter nascido na forma de um fermentado de sementes.
Seria uma experiência bem interessante tentar reproduzir uma “cerveja” feita a partir dos grãos do cacau.
Abç
Guzzon
Essa cerveja foi feita com grão de cacau
https://socialbeers.com.br/edicao/schokolade
Afonso, acho que o Guzzon se referia a fazer uma cerveja com base na fermentação dos grãos de cacau puramente e não como um ingrediente adicional.
O Luquita matou a charada Afonso, me referi a fermentar de fato o grão do cacau e ver no que dá.
ah ta, boa ideia =p
Realmente Guzzon, é bem interessante ver como tem ainda mais coisas associadas a produção de fermentados do que a gente imagina. Faz o filme da Discovery sobre cervejas parecer cada vez mais verídico rs.