Skol Beats 150 BPM – Por Ana Castilho

Por Ana Castilho (patrona do Beercast),

Em setembro do ano passado foi anunciada, ainda que timidamente pelas redes sociais, o lançamento da Skol Beats 150 BPM.  A foto do produto só adiantava o design da embalagem, muito parecida com a de um desses suplementos de academia, ou vitamina, com tampa de rosquear e tamanho reduzido.

O que aconteceu: a cantora Anitta foi chamada para fazer a publicidade da linha Skol Beats, mas mulher de negócios que é, ao invés de cachê, quis receber o pagamento em ações da empresa. É, a bicha é bonita, inteligente, dança bem e tem tino para negócios. Então, a marca a convidou para ser a “chefe de criatividade e inovação” e a primeira ideia a sair dessa parceria foi a 150 BPM, tanto é que o próprio nome da bebida, 150 bpm, é um estilo de funk nascido no Rio, mais rápido e que consiste em 150 batidas por minuto (a título de informação, o funk tradicional tem 130 bpm).

Trata-se de uma bebida mista, que eu chamaria de cooler, ou coquetel misto, nome mais popular, até porque o teor alcoólico disso – chamarei assim, mas é um tratamento carinhoso – é de 13,9%. O rótulo dela, em letras minúsculas, aponta a composição como destilado alcoólico simples de cereais, com adição de acidulantes, aromas e ácidos, além dos corantes. O público? Sem dúvida alguma, jovens (universitários ou não), sem tanto dinheiro e com uma quantidade de bom senso inerente a este fator. Acredito ainda que o design da embalagem, uma tampa rosqueável e não uma latinha, como a prima lançada no carnaval retrasado, Frost e Fire, seja mais uma tendência chupinhada de leve das garrafas tradicionais de Corote, as “barrigudinhas”. Na real, com o advento do Corote como bebida da vez das baladas da Augusta (como já foi também a catuaba) a 150 BPM vem como uma alternativa mais elitista e hypada.

O lançamento tinha como data oficial 15/11/19, mas eu não consegui encontrar a 150 em lugar nenhum mesmo após essa data, em nenhum mercado ou adega. Inclusive um contato na Ambev me disse que a bebida ainda não poderia ir para os pontos de venda por conta de uma questão contratual. Tá aí uma coisa que eu não entendi, essa “segurada”, a demora em colocar o produto na prateleira… Skol, isso aí é um a bebida alcoólica mista, não uma barrel aged. Não fica se achando, não.

A primeira coisa a ser levada em conta é que isso não é cerveja. Entendo que o nome Skol possa levar a alguma confusão sobre o tipo de bebida que estamos falando, mas acredito que a intenção é essa mesmo. Até hoje, anos depois do lançamento, essa linha ainda é erroneamente chamada de cerveja por alguns. A Skol Beats, segundo fontes seguras, é feita com o que sobra do preparo da cerveja Skol, adicionando-se glucose de milho e mandando fervura, tornando-se um jeito de reaproveitar o que seria descartado e ainda lucrar. Somam-se aromatizantes, acidulante e corante, manda colocar numa garrafa colorida, faz comercial com gente dançando na baladinha e pá, ela se vende sozinha.

O que me fez ter vontade de provar a BPM foi a informação de que ela teria, entre outros aromas, pimenta-preta. Eu amo pimenta e fiquei curiosa em como um sabor assim poderia “caber” num produto como esse.

Como quem tem amigos tem tudo (obrigada, Claudio!), ganhei de presente em dezembro duas dessas, e no final de semana seguinte me reservei para testar. O primeiro teste que eu fiz foi beber na própria embalagem, já que a proposta é essa, num dia de sol bem QUENTE, emulando uma situação de bloquinho de carnaval na Vila Madalena, que é uma das ocasiões em que eu imagino que o consumo seja mais propício.

No primeiro gole: nada. Açúcar e só. Talvez seja o mais atrativo do produto, você não sente o álcool, e é aquilo, o que a língua não sente, o fígado só vai perceber quando for tarde demais. Não senti a pimenta. O sabor é bastante parecido com o da Skol Beats Senses, a azul, primeira a ser lançada dessa linha, mas diferente dessa, a 150 não tem carbonatação alguma. É um sabor genérico, cítrico e só, e não parece com nada que realmente exista na natureza (nem com nada que realmente devesse ser bebido).

Na segunda tentativa consumi a bebida gelada, pesquisei aqui no meu glasswear alguma coisa que me ajudasse a perceber o álcool, ou algo que não fosse o açúcar. Tentei uma tulipa e só o que deu pra perceber foi o teor alcoólico, que vinha altíssimo no paladar. Coloquei gelo, porque uma das propostas da linha Beats é essa, e pá, o álcool some, mas nada de outros sabores ou aromas aparecerem. Nada. Doce. Açúcar. Só. Impossível perceber qualquer outra coisa, e eu tenho um paladar legal, olfato idem, tudo em ordem. Só açúcar e cítrico, parecido com uma bala de laranja. Aliás, fica aí a ideia, já que é pra ser assim, Skol, na próxima lança um drops com teor alcoólico, certeza que vai fazer sucesso (eu compraria). O aroma de pimenta preta? Asseguro que não tem. Ainda bem que é barato, cerca de R$ 3,50, porque mais do que isso não valeria. Como último recurso e por zoeira, porque eu vim pra vida só pra isso, degustei uma delas igual Yakult, fazendo um furinho na parte de baixo. Se o objetivo for ficar bêbado rápido, esse com certeza é o melhor método… Vai lá, amiguinho, tenta também! Não vai dar ruim não, confia em mim!

Eu sei que a proposta é fazer uma bebida que te deixa bêbado rápido, seja barata e fácil de portar (esconder) e consumir. Mas um pouco de capricho cairia bem. O mais importante a se ressaltar, ao menos para mim, é que apesar do nome isso não é cerveja, de jeito nenhum, de forma alguma.