Entrevista e tradução: Anselmo Mendo e Marisa Moriguchi.
Hoje inauguramos aqui no Beercast mais um espaço de informação sobre o mundo cervejeiro. Esta nova seção vai de encontro a nossa intenção de tratar assuntos cervejeiros de uma forma ampla e descontraída, e o universo do design de rótulos e embalagens se encaixa perfeitamente nesse objetivo. Começamos em grande estilo, com uma entrevista com um dos mais importantes designers do mundo: o americano Randy Mosher. Além de cervejeiro, residente em Chicago, autor de livros como Radical Brewing e Tasting Beer, o designer criou rótulos e identidades visuais para uma infinidade de cervejarias, entre elas a brasileira Colorado, de Marcelo Carneiro, de Ribeirão Preto. Randy foi muito simpático e solicito respondendo a nós perguntas a respeito desse trabalho brasileiro (em especial sobre a cerveja Vixnu e a Guanabara) além da criação para uma receita colaborativa entre sua cervejaria, a 5 Rabbit, e outra norueguesa.
Randy, qual foi o briefing para o trabalho que o senhor desenvolveu para a Colorado?
Bem, o Marcelo entrou em contato comigo em 2006 e queria que eu fizesse alguma coisa no estilo de um “autêntico rótulo de cerveja artesanal americana” para sua cervejaria, que estava mudando de um brewpub para o modelo de produção naquela época. Eu tenho coletado muitas imagens de rótulos antigos de cerveja e fiquei impressionado com a vitalidade e independência dos brasileiros do início do século 20. Então mostrei alguns para ele e propus que usássemos esse material histórico como ponto de partida, mas também os tornando mais modernos em alguns aspectos, e foi isso que perseguimos. Uma vez que tivéssemos uma ideia clara, era apenas uma questão de encontrar a execução correta. Passamos um bom tempo no Urso da Colorado e acabamos optando por um urso-de-óculos sul-americano, por razões óbvias. Queríamos que ele tivesse um olhar um pouco mais amigável, mas também um tanto ameaçador – não era pra ser um ursinho de pelúcia. Então, fizemos a boca aberta e dentes aparecendo.
Nós já havíamos criado vários rótulos para outras cervejas da Colorado antes de fazer o da Vixnu, por isso era uma questão de encontrar a imagem certa. Cervejas lupuladas muitas vezes são identificadas por tons de verde, por isso levamos isso em conta para um esquema de cores. A Colorado Indica já havia estabelecido um tema indiano com um Taj Mahal, por isso era apenas uma extensão lógica para continuar com essa ideia. Eu pensei que seria divertido representar o Urso da Colorado como um deus indiano com muitos braços, e Vishnu é geralmente descrito como tendo quatro braços. Tentamos algumas cores para ele, mas o marrom parecia a melhor.
A cerveja Guanabara também tem uma história interessante, não é mesmo?
A Colorado Guanabara foi desenvolvida como versão americana para a Ithaca Imperial Stout. O nome Ithaca foi criado um pouco como uma piada interna pelo Marcelo, fazendo graça a longa jornada e dificuldade que tiveram, pois o nome pensado inicialmente, “Vintage”, foi aprovado e depois desaprovado pelo Ministério da Agricultura. Nós pensamos em algo que fizesse sentido na América do Norte, mas que também fosse icônico e representasse o Brasil, então a imagem do Rio e o nome Guanabara foram escolhidos e executados.
Quais as dificuldades que o senhor encontrou no desenvolvimento dos projetos e o que o levou a solução gráfica tomada?
Não foram muitas dificuldades, como o Marcelo tinha uma boa ideia do que eles são e do que a marca representa, foi mais fácil chegarmos às soluções que funcionariam para a Colorado. Claro que as cervejarias têm dificuldades com a burocracia no Brasil como em qualquer outro lugar. Aprovações são muito, muito demoradas e as decisões às vezes parecem ser arbitrárias. Os governos frequentemente inibem inovações e o desenvolvimento de pequenos negócios (inclusive com tributações injustas), mas a esperança é que isso mude à medida que as pessoas se tornem mais conscientes e exijam menos interferências que não sirvam aos propósitos do consumidor.
Tecnicamente, como as criações foram executadas?
Uma vez que o direcionamento está decidido, eu frequentemente uso rascunhos a lápis que serão escaneados e limpos no computador. Estes são em preto e branco porque cores são altamente causadoras de emoção e distração neste estágio inicial. Em algum momento, começo a construir a arte no computador. Eu continuo utilizando um programa fora de moda chamado Freehand, porque ele é muito mais rápido e fácil de usar do que o Adobe Illustrator. Geralmente acontecem algumas idas e vindas e então a arte é convertida para o Illustrator e depois impressa.
Imagino que esse processo seja semelhante em outros trabalhos. Como aconteceu no caso do rótulo para a cerveja Naked Rabbit?
Está cerveja é uma colaboração entre a cervejaria norueguesa Nøgne Ø e a nossa 5 Rabbit Cervejaria, da qual sou sócio e diretor criativo. A 5 Rabbit começou em 2012 a fabricação moderna de cervejas artesanais , de inspiração latina, em Chicago. Esta foi nossa primeira cerveja colaborativa e tivemos muita sorte de conseguir trabalhar com Kjetil Jikuin da Nøgne Ø, a primeira e mais importante cervejaria artesanal norueguesa. O nome deles significa “ilha pelada”, então nós apenas combinamos os dois nomes e chegamos a Naked Rabbit. Eu pensei que seria divertido ter um coelho expondo-se , mas é claro que era importante fazer isso de um jeito que ficasse engraçado e de bom gosto. O personagem do coelho, particularmente no folclore latino, significa ser inteligente e mais esperto que seus adversários. Então nós procuramos fazê-lo parecer sagaz e brilhante. A tipografia segue temas já estabelecidos com diversos rótulos criados anteriormente.
Muito obrigado Mr. Randy!
Mais uma coluna. O site só cresce e nós fãs agradecemos =)
Parabéns, Anselmo. Começou já com o pé direito. Achei muito interessante a entrevista.
Abraço
Água mole, pedra dura… parabéns Ancelmo pela nova coluna no site.
Embora eu não entenda nada de ilustração e tenha um padrão binario para avaliação (gostei/ não gostei). Sempre aprecio um rotulos bem criativo, principalmente aqueles com Easter eggs.
Além disso, eles sempre são uma ótima companhia quando você está bebendo sozinho!
Vida longa a coluna.
Valeu Luiz! Com certeza que num mundo de cervejas parecidas, tem muitas que se vendem pelo rótulo mesmo. Pras próximas semanas já tem matéria no forno!
Muito legal essa nova parte Anselmo, vai ser interessante ver a história por traz dos rótulos.
Valeu Luquita!
Anselmo, muito legal a entrevista.
Tem várias cervejarias nacionais que investem nos rotulos como cartão de visita, e a Colorado é um ótimo exemplo, achei muito interessante os rascunhos e incluisve o modelo de trabalho.
Mas não pude deixar de notas que esta naked rabbit tem adição de bagas de zimbro e manga…. deve ser um Pale Ale bem diferente!
Abç
Guzzon
Legal Guzzon. As próximas tratarão de rótulos nacionais recentes. Fiquei curioso também com a Naked Rabbit, o Randy é adepto da escola cervejeira inventiva. Muito bom!
Caraca, muito legal Anselmo.
A Gente fala bastante das cervejas, mas como esse post “ilustra” (é vários episódios do Beercast também) os rótulos tem bastante história pra contar.
E aí Vinícius! É verdade. O Rafa Moschetta que me colocou em contato com o Randy e ele foi bastante simpático e prestativo. Acabei aprendendo também bastante coisa com isso.