Descobrir a verdadeira história é, em certos casos, praticamente impossível pois os registros não duram para sempre e também não eram comuns em determinadas ocasiões. Na história da cerveja isto não deixa de ser uma premissa verdadeira, assim como em outros casos, o passado da IPA também é de certa forma incerto!
Como eu costumo dizer, a história sempre é contada pelo lado vencedor ou de onde ela pareça ser mais bonita. Assim, como podemos ver, na história citada na Parte 1 a IPA foi criada para refrescar os marinheiros, soldados, oficiais e ingleses em geral que aportavam na “escaldante” Índia. Essa semana, na coluna de nerdices, vou mostrar as controvérsias em relação a primeira história apontada e veremos que tudo é contado de forma mais romantizada do que de fato ocorreu.
Foi no programa #37 do BeerCast com participação de Marcio Beck, através de sua indicação sobre uma matéria em seu blog “A volta ao mundo em 700 cervejas”, na qual me deparei pela primeira vez com as controvérsias da história da IPA.
Marcio Beck, ex- redator da coluna “Dois Dedos de Colarinho” do site O Globo, publica sempre ótimos textos que nos faz pensar fora da caixa e em seu antigo blog tive meu primeiro contato com o site “Zythophile”, do jornalista inglês Martyn Cornell, o qual uso muitas vezes como fonte de inspiração. Marcio, na ocasião, escreveu sobre Martyn e as pesquisas que este realiza sobre a história da IPA, traduzindo muito bem que devemos tomar cuidado com a diferença entre os fatos contados e os reais. Martyn conta em seu livro, “Amber Gold and Black: the History of Britain’s Great Beers”, fatos históricos da IPA e aponta diversas contradições da versão clássica difundida.
A Pale Ale já circulava na Índia há mais de 100 anos antes do advento da IPA. O armazenamento em Barril (Cask, que origina o estilo Cask Ale), ao contrário do que se conta, garantia a qualidade da cerveja por até mais de 1 ano. Na atualidade da Índia ainda há um grande consumo da Porter, e cervejas com graduação alcoólica mais elevada, assim demonstrando que os estilos são adaptáveis ao clima mais quente.
Conforme os registros demonstram, na forma de aviso para os produtores de cerveja, havia um consenso comum da necessidade da adição de uma carga extra de lúpulo para as cervejas enviadas para Índia porém nenhum destes registros aponta para Hodgson como sendo o idealista desta ideia.
A cervejaria de Hodgson, Bow Brewery, foi considerada uma das melhores à fazer “Pale Ale de exportação à Índia” mas isso não significava que ele era o único. Já neste período outras cervejarias da Grã Bretanha enviavam seus produtos para à Índia porém Hodgson tinha um produto de qualidade e uma localização mercadológica privilegiada.
Contudo, a fama da cerveja de Hodgson foi também devida ao bom preço de mercado pois este manteve uma linha de crédito aberta aos capitães da East Indiaman, que por sua vez revendiam a cerveja a Companhia das Índias Orientais.
Inicialmente a Pale Ale de Hodgson chegava à Índia sem o nome de sua cervejaria, como várias outras cervejas sendo vendida sem identificação alguma. Alguns anos depois do início de sua negociação de exportação, Hodgson começou a enviar garrafas identificadas e neste período a Pale Ale mais lúpulada já ficará conhecido na Índia, apontando que não há como garantir que foi a cerveja de Hodgson a primeira à chegar mais amarga.
Hodgson conquistou a Índia com sua “IPA”, tendo uma larga vantagem em Londres sobre cervejarias de de grande porte e se mantendo mesmo depois da entrada das cervejas de Burton-upon-Trent. O primeiro registro oficial de uma receita usando carga extra de lúpulo foi realizado no período onde Hodgson já detinha um bom Market Share mas o nome usado era de “Pale Ale for India” (Pale Ale para à Índia). Foi em um anúncio do jornal The Liverpool Mercury que surgiu pela primeira vez o termo “East India Pale Ale” mas mesmo após este anúncio o termo mais comum era o de Pale Ale para à Índia.
A cervejaria Bow entrou em crise quando a linha férrea entre Londres e Burton foi construída, desta forma as cervejarias Bass e Allsopp, ofertando as cervejas famosas de Burton-o-Trent, começaram a tomar conta do nicho de mercado que antes pertencia a Hodgson.
Hodgson, e nenhum outro dono, nunca reivindicou o título de criadores pioneiro da IPA até o fechamento total da cervejaria Bow. Um escritor chamado William Molyneux, que através de histórias populares, conclui que Hodgson inventou o estilo porém o levantamento foi muito mais uma questão regional e sem amplitude que o fez chegar a essa conclusão.
As contradições e fatos registrados demonstram a fraqueza da história popular contada mas, como o próprio Martyn Cornell escreve diversas vezes, a falta de mais registros impossibilita uma conclusão 100% certa e clara.
Na Parte 3 há mais curiosidades sobre a história da IPA, que ainda não acabou e pode ser ainda mais surpreendente.
Fonte: Blogs – A Volta ao Mundo em 700 Cervejas e Zythophile, Site – The Beer Connoisseur Online
Como sempre, ótimo artigo!
Aguardando a parte 3 e a entrada dos Aliens na história hehe
Abraço
Rapaz como adivinhou que hoje os Aliens aparecem na história? Rs…
Bom depende de qual povo vc considera extra terrestre. rs
Excelente história Luquita! Se procurarmos informações sobre a lesão do Neymar, vamos achar dezenas de versões e nuances diferentes do fato. Isso sobre algo absurdamente documentado e que aconteceu a menos de uma semana. Imagina uma resposta absoluta sobre tempos remotos. Aguardo a parte 3!
Neymar, isso não existe é fingimento hahaha, só acredito na Santa Cerva! Abraços…
E se a história não for boa, que seja bem contada pelo menos.
Então o lado criativo leva vantagem mesmo rs
O melhor mentiroso sempre é levado a sério rs…
Ótimo artigo Luquita!
E como dizem, é história é contada pela lado mais criativo… rsrsrs
Mas uma coisa é fato, os estilos tem muita história vinculada a eles, mesma aqueles que na teoria tem uma origem “simples” normalmente podem render um bom tempo de estudo e curiosidades.
Fico no aguarda do próximo artigo!
Abç
Guzzon
Essa diversificação de estilos é muito legal mesmo, o que temos hoje são apenas “rótulos” para distinguir.
Valeu Guzzon,
Luquita como sempre saciando nossa sede de conhecimento.
Já no aguardo do próximo post.
Rs, se continuar assim vou ter que postar 2x por semana! Valeu e abraços!
Heheheheheh… cara, você teve a disposição que eu não tive para detalhar essa história.
Parabéns !
Valeu mais uma vez Márcio, eu gosto de tim tim por tim tim… rs