Aproximadamente ha duas semanas atrás era transmitido nos EUA o Super Bowl e durante o disputadíssimo intervalo comercial veiculou o comercial mais comentado (odiado talvez) no mundo cervejeiro (assista no final do post), o ataque da Budweiser às cervejas artesanais! A coluna de nerdices cervejeiras vai explorar mais a fundo a história da cervejaria Anheuser-Busch e sobre a sua maior briga, o caso da Budweiser vs. Budweiser Budvar.
Leitores me desculpem pela ausência por 2 semanas seguidas, desta vez não foi descanso, mas sim problemas técnicos, que no caso me limitavam ao uso de um Smartphone. No meu micro-post, da semana passada, disse que quero sempre garantir um conteúdo de qualidade e por isso não coloco no ar um conteúdo sem esta característica de escrita e de edição. Sei que vários leitores aguardam e até perguntam sobre a coluna, fico muito feliz e agradeço a paciência . Hoje agradeço principalmente àqueles que até comentaram e me apoiaram no post de desculpas, além do amigo Cadú Zamoner que sugeriu o tema!
*Correções e Edição: Obrigado aos leitores José Augusto e Marcio Pierobom que ajudaram a melhorar este post, inclusive já disponibilizando o link para o comercial polêmico, que irei incorporar ao final também.
A Anheuser-Busch cervejaria que produz a Budweiser, e que atualmente faz parte do gigante conglomerado AB InBev, é de uma família tradicional e com origens alemãs, com uma vasta história que será resumida nos seus fatos mais notórios.
Fundada em 1876 por Adolphus Busch, alemão imigrante com conhecimento técnico em produção alimentícia, e seu sogro Eberhard Anheuser, também alemão de nascença, que tinha adquirido algum tempo antes uma pequena cervejaria local . Em parceria os sócios iniciaram uma nova atividade da cervejaria, Busch foi à Europa em busca de tendências nas técnicas de produção e de lá voltou também com o objetivo de fabricar uma light Bohemian lager. O estilo escolhido pela cervejaria para ser produzido de forma inovadora nos EUA foi de contra mão com a tendências pelas Ales fortes e escuras da época e “criando” assim a American Lager.
Eberhard batizou a cerveja de Budweiser, em homenagem a uma cidade chamada Ceske Budejovice (Budweis Tcheca), com o objetivo de ser facilmente pronunciada pelos alemães e americanos. A marca cresceu rapidamente no mercado e passou pela crise da proibição vendendo insumos e pela guerra auxiliando o governo, como toda a industria fez. Após cada crise ao invés de abalar a Anheuser-Busch como aconteceu com a maioria das cervejarias, esta sempre obteve um bom resultado de crescimento, pois os hábitos da cerveja se alteraram neste período, moldando o consumidor a beber uma cerveja mais leve e barata.
Rapidamente a Anheuser-Busch se tornou mundial, estando presente em mais de 80 países. Em 2008 com a grande recessão a cervejaria se viu obrigada a mudar a receita, colocando mais arroz e substituindo o lúpulo Hallertauer Mittelfrüh (de alta qualidade) por uma combinação de lúpulos mais baratos.
A história das cervejarias de Budweis se iniciam no século 13 quando a cidade suposta inspiração de Eberhard para o nome foi criada pelo rei da Bohemia na então Tchecoslováquia. O rei também concedeu o direito da produção de cerveja à cidade, que logo se mostrou muito boa e estimulou o comércio local. A história e os moradores locais dizem que desde a época remota a cerveja já fora conhecida como Budweiser ou seja, como de costume para época, se referia ao local de origem da cerveja sendo Budweis (a cidade) + ER (sufixo usado em alemão).
A cidade de Budweis sempre foi muito ligada à Alemanha e no século 18 começou a ter uma grande influência na politica e no comércio, tendo ali muitos moradores germânicos. Foi em 1795 que se fundou a Bürgerliches Brauhaus Budweis (Cervejaria Pública de Budweis) pelos alemães ali residentes e desde 1871 esta vendia sua cerveja sob o nome de Budweiser,
inclusive iniciando exportações aos EUA.
Em 1895 uma segunda cervejaria da região chamada de Budějovický Budvar (Budweiser Budvar), mais conhecida no Brasil como Czechvar, começou também a exportar sua cerveja e sob o nome de Budweiser Budvar, dando início a guerra pelo direito do uso do nome pelas 3 cervejarias.
A cidade de Budweis foi bastante privilegiada ao longo do tempo pela sua qualidade na cerveja e acabou sendo bastante preservada durante as guerras, não prejudicando a maioria das cervejarias, mas tendo o controle das mesmas alterado após 1945 por conta do regime comunista. Atualmente, a Budweiser Budvar tornou-se uma das cervejas mais vendidas na República Tcheca e é exportada para mais de 60 países.
Nesta disputa pelo nome, a Budweiser Bürgerbräu (antiga Bürgerliches Brauhaus Budweis) deixou a disputa de lado logo após a guerra e passou a possuir diversos outros nomes comerciais, inclusive nos EUA. Atualmente esta cerveja é conhecida pelo ano de fundação da cervejaria, 1795 Budweiser Bier.
Desde 1907 a Anheuser-Busch Budweiser e a Budweiser Budvar vem disputando judicialmente o uso oficial do nome da cerveja em diversos países. Em 1939 um acordo comercial dizia que a cervejaria americana teria o direito do uso do nome em território nacional, enquanto a tcheca detinha o nome em quase toda Europa. Inúmeras vezes a justiça julgou o caso, hora a favor da cervejaria americana e hora a favor da cervejaria tcheca. A maior alegação da Budweiser Budvar é que o nome se refere ao local de origem da cerveja sendo este ponto reconhecido pela União Europeia como produto com proteção de indicação geográfica, assim como muitos estilos são nomeados.
Não é em todo continente Europeu que a cervejaria tcheca possui atualmente uma hemogenia, tendo que dividir o mercado com a rival americana em diversos casos. Desta forma os americanos há algum tempo conquistaram o direito de chamar sua cerveja simplesmente de Bud em países onde a concorrente usa o nome oficial e, em contrapartida, há o uso do nome Czechvar em países onde a Anheuser-Busch pode usar oficialmente o nome. Há exemplos, como na Inglaterra e na Irlanda, onde as duas cervejas são vendidas sob o nome de Budweiser e neste caso prevalece quem tem o melhor marketing, algo bem explícito em termos de ataques entre as duas.
Curiosamente a cerveja da A-B era proibida de ser vendida na Alemanha, não por causa do nome ou de uma ligação forte com a cidade de Budweis, mas porque não respeitava a Lei da Pureza.
Todo este caso soa intrigante em relação aos ataques da Anheuser-Busch Budweiser às cervejarias Artesanais, pois sua origem remete a uma cerveja que foi contra o que era o comum da época, buscou a perfeição na criação da bebida e possuía uma produção artesanal no seu início. A Anheuser-Busch é a pioneira na produção da American Lager, considerada atualmente um estilo leve e sem grandes propriedades cervejeiras mas que já foi um produto de qualidade superior aos demais concorrentes, que conquistou rapidamente o mercado.
Parece que a empresa perdeu esta ligação com sua própria história ou sente ainda muito o impacto da disputa judicial que não terá um fim tão próximo. Enquanto a cervejaria tcheca continua a seguir a tradição de boas cervejas, uma questão quase de honra no país, nada tem a temer em relação aos ataques mas sim pode acabar ganhando por ser atualmente a “verdadeira” Budweiser, pelo menos é aquela que realmente oferece um produto de qualidade.
Uma fonte amiga me disse parecer existir documentos que comprovam que o registro da Budweiser Budvar não ser tão antigo quanto os da Anheuser-Busch, o que daria a cervejaria americana o direito de uso!
Um aspecto intrigante é a questão da Anheuser-Busch atualmente fazer parte do grupo InBev (AmBev) formando a gigantesca AB InBev. Apesar da AB InBev ser muito criticada por suas cervejas de baixa qualidade possui em seu portfólio inúmeras cervejas que são consideradas como sendo clássicos e ótimas representantes de diversos países, como Bélgica, Holanda e EUA. Dentre elas: Stella Artois, Hoegaarden, Leffe, Goose Island, Hertog Jan, Franziskaner e as recem adquiridas 10 Barrel e Elysian Brewing.
Não é segredo o fato do grupo comprar uma pequena cervejaria (popular), baratear a receita e deixar o sabor mais “simples“, na maioria, as alterações não chegam a ser impactantes. O que muitos não sabem é que o mega grupo ajudou e ajuda pequenas cervejarias em crise financeira, de uma forma que ela acaba se apoderando futuramente da cervejaria, mas preserva o nome e as receitas, mantendo assim funcionando muitos ícones da bebida. Analisando o caso, a Anheuser-Busch acaba atacando diretamente os parceiros do grupo ao qual pertence, sendo contraditório e sem sentido. Ser excluído deste não é nada interessante para a Budweiser embora isto seja um cenário que não deve acontecer, o medo de perder mercado nesta disputa interna é iminente. Antes de criticar e falar de peito cheio que não bebe cerveja da AmBev certifique-se de dizer especificamente qual delas não bebe pois pode estar tomando algo do grupo e muitas vezes não sabe disto, portanto, não cometa o erro da Budweiser de criticar quem está ao seu lado.
https://youtube.com/watch?v=siHU_9ec94c
Excelente texto Luquita. Sobre o vídeo, ouvi muitas críticas, mas quer saber, achei uma excelente sacada e um ótimo posicionamento para a marca. Dessa vez acrecito que os miseráveis dos publicitários mandaram bem.
Vdd, ele acabou agitando os dois lados da moeda para um lado positivo.
Salve Luquita,
A história da briga pelo nome Budweiser é muito legal, em um patamar menor o mesmo aconteceu com a Skol também.
E sobre a propaganda… acho que ela gerou exatamente aquilo que a empresa queria… quem bebe Bud (ou Coors ou Miller) se sentiu valorizado e ficou mais próximo da marca, e quem bebe artesanais se sentiu contrariado e vai se aproximar ainda mais das cervejas artesanais, que curiosamente também é vendida pela A-B e que tem cada vez mais pequenas cervejarias dentro do seu grupo.
Um pouco diferente das propagandas que temos por aqui, onde qualquer coisa é motivo para mimimi e a propaganda sai do ar, lá nos EUA este tipo de ataque é normal e muito usado, outro bom exemplo é a nova propagando da Indian (motocicletas).
Abç
Guzzon
Bom ponto de vista Guzzon, concordo com ele. Sei bem dessa abertura na mídia nos EUA é realmente muito legal ver as brigas!
BUDWEISER, EU TAMBEM NÃO GOSTO DE VOCÊ
Pois entendo que temos que mimar sim tudo que for bem feito.
Pois entendo que dissecar uma cerveja nos faz aprender muito da Quimica a História e principalmente o prazer de sentir seus sabores.
E deixe eu beber minhas cervejas em pequenos goles sim. Bud fique com teus bebados chatos e inconvenientes
Fala Luquita, bem vindo de volta!
Pra mim a Budweiser original mesmo é a da Rep. Tcheca, mesmo que os registros não sejam tão antigos assim.
Não sabia da 1795, achei interessante descobrir que existiam 3 Budweisers.
E sobre falar que não bebe Ambev, o povo se esquece mesmo, ou não lembra, que muita coisa tida como clássico é deles. Hoegaarden e Stella são os maiores exemplo disso.
Abraço!
Exatamente Daniel, eu costumo sempre dar o pitaco quando alguém fala que não bebe AmBev.
Excelente post, Luquita!
Não sabia que a Czechvar era a Budweiser tcheca…
Só para complementar, segue a propaganda da Budweiser americana que gerou toda a polêmica:
https://www.youtube.com/watch?v=siHU_9ec94c
Obrigado José Augusto, vou incorporar o link no post tb!