Quem acompanha o mundo cervejeiro deve ter comemorado no dia 06 de Novembro de 2014 o International Stout Day ou simplesmente #StoutDay (Dia da Stout). Porém, porque comemorar o estilo de cerveja neste dia exatamente e de quem foi a ideia? Vamos descobrir um pouco mais sobre a história da Stout, deste a sua concepção!
A coluna de nerdices e os demais colaboradores do Beercast se preocupam em seguir o calendário cervejeiro, trazendo assuntos relacionados para a ocasião, mesmo que as vezes a noticia chegue atrasada mas no próximo ano os leitores já estão preparados. O que vou apresentar hoje é diferente do que falei sobre a Imperial Stout.
A Stout surgiu a partir da Porter e, ao contrário do que muitos podem pensar, é um estilo Londrino e não Irlandês. Para falar da Stout precisamos voltar ao começo da história da Porter e assim mostrar como ambas surgiram.
No antigo Reino Unido existia uma variedade enorme de Ales sem nenhum tipo de padrão, o surgimento de um primeiro estilo veio a partir da pratica de “Three-Thread” (Três partes). Essa pratica consiste em fazer um blend (mistura) de 3 cervejas de barril e idade diferentes, cada consumidor tomava o seu Three-Thread conforme poderia pagar, isto é, a qualidade das cervejas variavam. O “Entire Butt” (Único Barril) ou somente Entire surgiu para baratear essa pratica pois consistia em se obter a cerveja de um único barril (Butt), que já continha uma mistura pronta. Essa “criação” dos comerciantes, em meados de 1721, deu a origem as primeiras Porters e ali se estabeleceu o primeiro padrão consistente do país.
Acho que nem preciso dizer que essa também é uma versão duvidosa da história mas vou deixar o assunto do surgimento da Porter para outro post!
A Porter Simples, a variação mais comum consumida, era de um marrom avermelhado com sabor azedo e defumado. O estilo se tornou popular por envelhecer bem no barril e ser excelente para a exportação, bem antes das IPA. As variações mais alcoólicas eram usadas para abastecer o mercado externo, estabelecendo um sucesso principalmente na Índia e na Irlanda, onde o consumo do estilo em 1790 representava 1/3 de toda a cerveja.
A variação mais alcoólica ganhou o nome de Stout Porter em 1800, pois o termo Stout (forte) já era usada muito antes para designar cervejas mais robustas, conforme registros de 1630.
O nome acabou sendo abreviado e ganhou variações conforme a origem de seus sub-estilos como a Baltik Porter e Russian Porter.
A fama da Stout na Irlanda surgiu muito depois de sua popularização mundial, pois era mais barato fazer a cerveja em Londres e exportar para a Irlanda, por causa de altos impostos. Com o canelamento dos impostos o estilo começou a ganhar forças e ser re-inventado, ficando mais seco e salgado. Há inclusive uma criação inusitada que levava conchas de ostras trituradas na filtragem antes de fermentar, as Oyster Stout.
Em 1817 Daniel Wheeler criou um processo de torrefação do malte para extrair mais açúcar e o surgimento do hidrômetro auxiliou no processo de controle dos açúcares. Assim os impostos sobre a matéria prima, que subiam cada vez mais, foram reduzidos ao se usar menos malte e obter uma alta rentabilidade do açúcar na torrefação.
Novas técnicas de produção e equipamentos mais modernos fizeram o estilo sair de Londres e migrar para Burton, onde a água era melhor. Assim como em Burton, a Irlanda oferecia boas condições de produção e uma água adequada e Arthur Guinness re-inventou a Stout na Irlanda, deixando a mais seca no começo do século 19.
O advento da 1ª Guerra Mundial reduziu a produção do estilo, pois a torrefação era interrompida para economizar-se combustível. Desta forma no período pós guerra aconteceu o declínio da Porter, chegando quase a desaparecer, até os anos ’90. A Guinness se tornou famosa pois criou uma marca visual de sua Stout, com processos novos e mais baratos, que fizeram muito sucesso no pós-guerra.
Houve um período em que a “Stout Inválida” foi a forma de driblar a exploração em cima dos produtores pela sociedade da moderação, que restringia o consumo de bebidas muito alcoólicas. Surgindo assim a Milk ou Cream Stout feita com lactose não fermentada e a Oatmel com mingau de aveia, que entupia toda a filtragem, criando um marketing pós guerra que a Stout Doce de baixo teor alcoólico era bom para as pessoas doentes, grávidas e idosos pois era um tônico. Este mesmo mito conhecemos no Brasil com o consumo das Malzbier, que as pessoas mais velhas dizem ser bom para o leite materno e etc.
A Stout tradicional leva um malte escuro bastante torrado e cria mais açúcar caramelizado, o que antes era uma diferença simples entre Porter e Stout se tornou hoje complexo pois as receitas levam misturas com café e chocolate para chegar ao resultado esperado. Desta forma muitas vezes é quase impossível diferenciar se a cerveja é uma Porter robusta ou uma Stout fraca.
Na Irlanda o movimento pela Porter e Stout verdadeiras /clássicas começou a partir de ’90, junto com o movimento do renascimento da cerveja artesanal, antes disso os estilos estavam sendo esquecidos e o povo se acostumando as cervejas de grandes produtores. As grandes cervejarias atualmente já buscam oferecer um produto de melhor qualidade e acompanhar o gosto do mercado, oferecendo produtos mais tradicionais.
Depois desta história toda ainda não foi respondido do porque se comemora o Stout Day em Novembro, em dia não muito bem definido como o IPA Day. A indefinição do dia acontece porque há entidades por trás da organização da comemoração, que já é mundial, e são eles que determinam o dia desta homenagem. Não há nenhuma referência sobre o por que comemorar em Novembro, porém é unanime dizer que o dia é celebrado pela importância que este estilo tem no desenvolvimento da cerveja moderna. Sendo um resultado final dos primeiros passos de parametrização de um produto, ajudando em muito o mercado a se desenvolver, criar novas tecnologias e a superar obstáculos.
Então é por isso que comemoramos o Stout Day mas realmente não importa o dia!
Fala Luquita!
Cheguei atrasado aqui mas não posso deixar de dar minha contribuição. Pra mim, todo dia é dia de Stout =)
É um dos meus estilos preferidos e sempre que posso tenho um Pint cheio.
Abraço
Cheers então Daniel!
Luquita como sempre arrebentando com seus posts.
Bem de fato o importante é comemorar o #stoutday assim como qualquer outra data cervejeira, pois alem de um hobby, a cultura cervejeira é um estilo de vida.
E vamos é convenhamos que o boa stout sempre cai bem (principalmente antes de fazer mudanças, rsrsrs).
É bom comemorar todas as cervejas sempre rs…
Grande Luquita!
O final do artigo é impagável… hehehehe e é a pura verdade, o importante é comemorar o advento da Stout a escolha do dia talvez tenha sido aleatória mesmo.
E um ponto que você citou, sobre uma robust porter e uma stout fraca serem muito semelhantes é de verdade… a “faixa” de similaridade entre estes dois estilos é bem grande e muitas vezes eu acredito no fabricante, pq sensorialmente fica bem dificil distinguir.
Abç
Guzzon
Exatamente Guzzon, apesar que já vimos vários casos que a cervejaria erra também rs.