Parem as prensas tenho algo pra contar sobre Pliny o Velho!
Vamos aqui abrir um adendo ao tema, antes de prosseguir, sobre a origem do nome dado ao “pão líquido”, pois em recente pesquisa no Zythophile obtive um descoberta BOMBÁSTICA! Provavelmente, mais uma vez aprendemos a história pelo lado vencedor, isto é, o que ouvimos sobre Cervisia, a origem latina do nome, foi inventada pelos romanos de forma que mais lhes convinham mas que na verdade tem sua origem mais filosófica.
Primeiro vou falar sobre o Pliny the Elder (Plínio o Velho) pois vocês provavelmente já devem ter lido e ouvido este nome relacionado a uma cerveja da Russian River Brewing Company, de Santa Rosa na Califórnia EUA. A cerveja, uma Double IPA muito apreciada e bem avaliada, ganhou sua fama graças a outro sucesso da cervejaria a Pliny the Younger (Plínio o Novo), uma Triple IPA sazonal que é servida somente na cervejaria uma vez por ano, durante 2 semanas. A Pliny the Younger é considerada por muitas pessoas como uma das melhores cervejas do mundo, tornando assim os dois exemplares verdadeiras raridades do mundo, mesmo com a Pliny the Elder sendo engarrafado e distribuído para certos pontos de venda.
Gaius Plinius Secundus ou Pliny the Elder como ficou conhecido, acabou marcado na história por ser um filósofo romano que escreveu o Naturalis Historia, conhecida por ser a primeira enciclopédia de história natural da humanidade que influenciou o modelo para futuras obras do mesmo estilo. Pliny morreu na erupção vulcânica que destruiu Pompeia mas ficou conhecido postumamente pelo seu sobrinho Gaius Plinius Caecilius Secundus ou simplesmente Pliny the Younger, que escreveu sobre o seu tio numa carta ao historiador Tacitus.
Conforme a cervejaria, a referência do nome surgiu no ano de 2000 quando os criadores da receita participavam de um concurso cervejeiro e precisavam de um nome para a receita. Depois de muitas horas de pesquisas em livros chegaram ao nome de Pliny, e conforme suas referências, dizia que o mesmo escreveu sobre o Lupus Salictarius ou Humulus Lupulus, o que atualmente conhecemos como Lúpulo.
Aliás, aqui cabe outro rápido adendo sobre a origem do nome Lúpulo. Sua referência, como vimos no Beercast #22, vem de Lobo e mais especificamente de Lobo Solitário ou Lobo que vive entre os Vimes (Salgueiros). Sua comparação com o Lobo é feita porque a planta vivia de forma selvagem entre os vimes, assim como os lobos entre os carneiros e se enrolava nos galhos e com seu peso os trazia até o chão, assim como o lobo faz com suas presas. Porém vou deixar para explorar essas histórias numa próxima vez.
Porém o pessoal da Russian River deve ter tomado uma ou outras Plinys a mais para escolher o nome pois o filósofo não escrevia sobre o lúpulo naquela época, e portanto ele não seria o primeiro humano a fazer uma referência a planta. É verdade que ele escreveu sobre o Lupus Salictarius mas sua referência era sobre outra planta e a ligação com a palavra Lupulus, com o mesmo significado do que Pliny escreveu, aconteceu alguns séculos depois.
Voltando ao assunto principal, nesta vertente da história, ao contrário de uma homenagem a uma deusa (Ceres), veremos que o nome Cerevisia foi originado por uma tradução / adaptação por Pliny de uma palavra Celta.
Partindo do Gaulês, estudos mostram que a provável palavra para o “pão líquido” era Kormi (e/ou algumas variações do tipo), que dependendo da região também tinha outra significado como “comida” por exemplo.
Na Roma, a palavra variou para Curmi e por razões de dialeto para Cermi. A rápida expansão do povo Celta na Europa fez com que dialetos e influências linguísticas se difundissem, sendo incorporados por povos dominantes. Assim uma influência na fala, substituiu o M pelo V e fez com que muitas palavras tivessem novos contextos. Desta forma Posidonius, um escritor grego, falou sobre uma bebida maltada e melada que os Celtas tomavam e que chamavam de Corma, o que Pliny mais tarde, na sua Historia Naturalis, descreveu sendo a Cervisa / Cervisia ou Cerevisia.
A palavra Kormi ainda derivou para o Corn (semente) e outras palavras, dependendo da região, mas na maioria ela acabou se perdendo com o tempo.
Bom ao meu ver, essa história faz muito mais sentido que simplesmente um dia alguém acordar e dizer que vai chamar aquela bebida de X alguma coisa em homenagem a Deusa tal porque achou justo, rs.
E vocês, com qual vertente ficam?
Como sabemos, a história se faz através de conversas por intermédio de um imeeeeeenso barbante conectando duas latinhas de cerveja. Muito bom Lukita, vai ter parte 1.2?
Agora espero ir para a Parte 2 que será sobre as Ale, Anselmo!
É realmente muito loco, acho que o dito pelo Guzzon faz muito sentido, no final das contas as histórias estão de certa forma interligadas, mesmo que distantes… de qualquer forma, achei muito interessante essa possibilidade! Parabéns ao Lukita pelas informações históricas e pela explicação tão didática!
Também fico pensando em como as coisas estão ligadas e de onde surge então uma lenda “falsa”? De uma forma ou de outra as duas partes devem se aproveitar uma da outra.
Achei mais interessante a origem baseada no contexto histórico deste artigo, até por que fui com a cara dos Plinys… hehehe…
Mas a origem etmiológica das palavras é algo que tem várias vertentes, e em certo momento as coisas se cruzam pois uma acaba influenciando a outra. Apesar que dar o nome de uma Deusa (Ceres) ainda me parece pouco para a Cerveja… mesmo sendo uma deusa dos grãos e da lavoura, acho que seu nome já esta de bom tamanho representado no levedo (Saccharomyces cerevisiae)
Mas convenhamos para que alguém associe o nome da deusa a bebida é pq alguma ligação em algum momento foi feito, nem que não seja a origem do nome mas com certeza a deusa foi cultuada pela cerveja.
Lendo isso lembro do início do O Senhor dos Anéis e as várias regras de palavras e letras e pronúncias das várias traduções do livro rsrs
E também acho que faz mais sentido essa de hoje.
Mas batizar baseado nos deuses não é algo tão absurdo. Taí o Thursday e Friday por exemplo e as referências a Thor e Freya(?).
Vale as referências mas começo a cada dia duvidar mais delas rs.
Tinha Freya e Frigga, pode ser de uma das duas, isso se não forem as mesmas e apenas grafias diferentes.
Eu comecei a ler sobre mitologia nórdica pra embasar melhor minha fé… mas os textos não são assim tão legais e eu meio que desisti por hora hahaha